Filme
Num Portugal atordoado pelo fim da I República, Florbela (Dalila Carmo) separa-se de forma violenta de António (José Neves). Apaixonada por Mário Lage (Albano Jerónimo), refugia-se num novo casamento para encontrar estabilidade e escrever, mas a vida de esposa na província não é conciliável com sua alma inquieta. Não consegue escrever nem amar. Ao receber uma carta do irmão Apeles (Ivo Canelas), oficial da Aviação Naval e de licença em Lisboa, Florbela corre em busca de inspiração perto da elite literária que fervilha na capital.
Na cumplicidade do irmão aviador, Florbela procura um sopro em cada esquina: amantes, revoltas populares, festas de foxtrot e o Tejo que em breve verá o irmão partir num hidroavião. O marido tenta resgatá-la para a normalidade, mas como dar norte a quem tem sede de infinito? Entre a realidade e o sonho, os poemas surgem quando o tempo pára. Nesse imaginário febril de Florbela, neva dentro de casa, esvoaçam folhas na sala, panteras ganham vida e apenas os seus poemas a mantém sã. Por isso, Florbela tem que escrever!
Este filme é o retrato íntimo de Florbela Espanca: não de toda a sua vida cheia de sofrimento, mas de um momento no tempo, em busca de inspiração, uma mulher que viveu de forma intensa e não conseguiu amar docemente.
Biografia de Florbela Espanca
Florbela Espanca é uma figura incontornável da literatura portuguesa do séc. XX. Alentejana de berço, em conflito com o seu tempo, a jovem poetisa escandalizou a sociedade da época, com sucessivos casamentos e divórcios, uma maneira audaz de vestir, e uma personalidade emancipada. Mulher forte e determinada, escreveu o que sentiu, o que amou, o que sofreu. Talvez tenha sido pela própria forma como veio ao mundo, nessa madrugada de 8 de Dezembro de 1894 em Vila Viçosa, quando foi registada como filha ilegítima e de pai incógnito. O destino corrigiu a mão, e o pai acabou por educá-la, dando-lhe uma educação literária pouco comum às mulheres da sua condição social. João Espanca era fotógrafo e projeccionista amador, levando-a a crescer num meio artístico e contribuindo financeiramente para a primeira edição do seu livro de sonetos ‘O Livro das Mágoas’ em 1919.
Os seus versos revelam um erotismo feminino transcendente, pondo a nu a intimidade da mulher, o que abalou a consciência literária da época. A sua escrita aproximava-se do neo-romantismo de fim de século, pelo seu carácter confessional e sentimentalista, e por recuperar o soneto, afastando-se do modernismo tão em voga, levando-a, por isso, a ser menosprezada pelos seus pares que invocavam o constante “feminino” presente nos seus versos. Apenas décadas mais tarde, a sua importância foi restabelecida na história da literatura portuguesa. Nas palavras da académica Rosilene Rodrigues Coelho, o preconceito em relação à sua obra é fácil de entender: uma “mulher avançada para o seu tempo, fumadora, divorciada, provinciana, filha ilegítima e declarada inimiga do Estado Novo”.
Conta-se que morreu de uma tristeza sem fim, com apenas 36 anos, três anos após a morte do irmão num desastre de aviação. Viveu três casamentos, escreveu poesia e contos, sobreviveu entre traduções e explicações, morou em Évora, Redondo, Matosinhos e Lisboa, numa vertigem altamente invulgar para uma mulher do seu tempo.
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