Dois passos em frente, Um atrás...


   Quando me sentei na frente dele pela primeira vez, eu já sabia quem era ele. Não fora ali para o encontrar, mas quando o encontrei. Senti vontade de ir ao seu encontro. E fui. Aceitei a vontade, o nada pensar para a contrariar.
   O café onde Eduardo trabalhara era perto dali, o estabelecimento que eu iria ter em homenagem a meu pai e à minha mãe de verdade era... ali perto, eram no mesmo lugar, um iria dar lugar ao outro e eu precisava se ter acesso a um Banco o mais perto possível. Foi coincidência ele trabalhar ali. Não foi por acaso que a ele me dirigi.


   Fui um dia ao encontro de uma amiga.
   Havíamos combinado um encontro para irmos fazer umas compras, mas ela atrasou-se. Ligou-me já eu ia a caminho e disse-me para a esperar um pouco num café perto do ginásio onde ela estava a ter uma aula. Assim fiz. Foi quando o vi, pela primeira vez. Tomava café.
   Vestia calças muito bem engomadas, uma camisa branca... certamente passara o dia a usar gravata. Era um deus grego. Não um daqueles armários que vivem nos ginásios, que parecem apenas viver para o culto do corpo, mas um homem que gostava de se cuidar. E isso agradava-me imaginar.
   Pedi um café. Estava a escassos dois metros dele, mas ele como que ignorou a minha presença. Foi estranho. Senti-me ultrajada por ele não me ter olhado ao menos por uma escassa fração de tempo. Ficou impávido e sereno, no seu mundo. Ignorou-me. Ultrajante.
   Sei que não me devia sentir assim.
   Que não era normal sentir-me daquela forma.
   Dele teria aceitado um piropo, um olhar, uma palavra... teria retribuído, não o piropo, mas o olhar, as palavras que ele me dissesse, naturalmente se estas fossem ditas com educação.
   O meu café chegou, o dele, pelo canto do meu olho direito, vi que acabara. Ele falou, não para mim, para desgosto meu, pediu uma garrafa de água. Deram-lhe uma de litro e meio. Percebi que ali vinha habitualmente.
   Por curiosidade, uma vez disseram-me:
   – Ficaste escarrapachada na minha alembradura.
   Desta vez teria ficado maravilhada apenas com um olhar invasor, um sorriso tímido, uma palavra... um desejo de Boa Tarde. Mas nada. Ele estava a ir embora e a minha amiga a chegar. Ela cruzou-se com ele e eu mordisquei meu lábio inferior para a ela dar sinal do meu interesse naquela espécie de deus grego.
   Sentamo-nos numa mesa.
   Ela falou-me dele. A discrição dele era ainda maior do que aquela que eu pudera presenciar. Era um regular frequentador do ginásio, mas pouco falava com as pessoas... ninguém sabia muito sobre ele, não parecia ter amigos por ali, apesar de frequentar aquele espaço há já tempo considerável. Anos.
   A minha amiga confidenciou-me que ele se colocava um pouco à margem de todo o ambiente do ginásio. Ia lá para fazer o que tinha a fazer e nada mais. Entrava quase sempre com fones nos ouvidos, fazia o seu plano de treino com muito rigor e sem nunca os monitores lhe chamarem à atenção por falhar pois ele não cometia falhas, e saia para o balneário com os fones nos ouvidos. No entanto, ela salvaguardou que ele respondia sempre de forma educada e com bons modos quando alguém com ele interagia. Mas a primeira intenção nunca partia dele, nunca. Estranho, pensei. Haveria um porquê?
   A ideia era que ele era um marido fiel e dedicado, ou alguém, ainda que educado, pouco sociável... ou um gay não assumido. Dizia a língua comprida da minha amiga.
   Pensei que nunca mais o viria e julguei que aquele assunto terminara com fim da conversa com a minha amiga.

* * *

   Eu lembrava-me dele, vira-o uma vez. Ele via-me pela primeira vez.
   Ele parece-me algo surpreso com a minha presença na sua frente. Talvez pouco à vontade. Tive essa noção, mas segui com o propósito que ali me levava. Isso era independente do recuperar da lembrança de já o ter encontrado no passado.
   Gostei do jeito dele, ou melhor dizendo, de o ter deixado sem jeito. Pareceu-me nervoso. Não sabendo bem o que dizer. Tinha que o prender ali, a partir daquele instante. E como que vingar-me da ignorância anteriormente revelada.
   Disse-lhe que me tratasse apenas por Elisa.
   Tentei, junto de Eduardo, saber se conhecia o deus grego que trabalhava no Banco do princípio da rua.
   – Abri conta no Banco do princípio da rua, assim é-nos mais fácil para o negócio. – confidenciei a Eduardo.
   – Boa ideia. – apoiou ele – Quem te atendeu?
   Bem, nem foi preciso levar a conversa para onde eu queria, Eduardo fê-lo por iniciativa própria.
   – Santiago. – respondi parecendo não dar muito importância ao mesmo.
   – Boa escolha... – respondeu ele, como se soubesse que eu, de facto, o havia escolhido.
   – Achas?! – perguntei.
   – Sim, é excelente profissional, uma pessoa extremamente discreta e educada. Fora do trabalho é de muito poucas falas... – começou por dizer Eduardo.
   – Concordo, poucas falas, mesmo no trabalho, parece-me sempre dizer o estritamente necessário. – relatei-lhe a perceção que tinha.
   – Ele vinha diariamente aqui ao café. Na maioria das vezes tomava só café, esporadicamente um café e um bolo. – revelou Eduardo – É o empregado há menos tempo a trabalhar nesse Banco, deve estar cá há uns 2 ou 3 anos. Penso que não será daqui. Como te disse antes: fala muito pouco. Não se envolve muito. – finalizou.
   – Será defeito ou feitio? – perguntei.
   Eduardo sorriu.
   – Feitio. Parece um robot programado. – disse quase rindo, nitidamente baseado no aspeto físico de Santiago.
   Eu sorri ao ver Eduardo imitar um robot e a conversa fico por ali.
   Certo dia ao final da tarde, meu sócio reparou em algo que eu já havia reparado antes, mas por acaso ainda não comentado.
   – Vai ali o bancário e olhou cá para dentro para tentar ver algo. – disse.
   – Já não é a primeira vez. – disse informando Eduardo que já havia notado a curiosidade de Santiago – Vou convidá-lo a entrar um dia destes. – deixei escapar a espontânea ideia que acabara de ter.
   – Fazes bem. – concordou Eduardo – Afinal ele também nos está a ajudar.
   Se rápido pensei, rápido concretizei a ideia. Não foi um dia destes, foi exatamente nesse mesmo dia.
   Tinha que ser eficaz, não deixar qualquer hipótese de recusa. Mas ao contrário do esperado, ele aceitou e até entrou, se assim posso dizer, no meu esquema respondendo-lhe à letra.
   Eu, sim eu, fiquei ligeiramente assustada. Não esperava a recusa dele, mas também, e por mais absurdo que possa parecer, não tinha antevisão para o aceitar do convite que lhe propôs.
   Não era normal eu ficar assim. Estranho.
   – Elisa, estás doente? A perder faculdades mentais? – perguntava-me no silêncio dos meus pensamentos.
   Pedi a Eduardo que saísse mal chegasse Santiago. Sei que ao fazê-lo me estava a expor, a abrir espaço para este especular, mas os dias que levávamos de convívio e trabalho haviam criado laços de camaradagem e amizade. Eu confiava plenamente na discrição dele.
   – Tenho que me apresar então, ele vai chegar 2 ou 3 minutos após a sua hora de saída. – perspetivou Eduardo.
   – Certamente! – concordei – Que seja sempre assíduo e pontual. – conclui sorrindo.
   Eduardo sorriu também.
   Decidi receber Santiago, não como alguém que mexia um pouco comigo, mas como uma visita quase formal. Era assim que previa. No telefonema havia lhe perguntado se gostava de vinho.
   – Sim, vinho tinto, Alentejano. – respondera ele prontamente.
   Os vinhos que já tínhamos no estabelecimento eram variados, mas o Alentejo tinha da minha parte um carinho especial. Ainda mantínhamos a quinta no Alentejo. Ir lá era reviver a infância. Agora que crescera era também sinónimo de descanso, em especial para os ouvidos, um verdadeiro antisstress. Gostei da resposta dele. Conquistara-me mais um pouco.
   Eduardo estava mesmo prestes a sair quando a porta se abriu.
   Havia-lhe dito que a porta estaria aberta.
   – Tranque a porta, se faz favor. – disse mal senti a porta abrir.
   Despedi-me de Eduardo e este saiu pelas traseiras. Esta saída era mais prática para chegar ao estacionamento que a maioria das pessoas dali usavam. Inclusive Santiago.
   Ali estava ele na sua postura de deus grego, mas também espantado com o que via, com as mudanças que aquele espaço sofrera. Sentia-me um pouco nervosa e quando isso acontece, falo rápido e mal deixou o interlocutor falar.
   A promessa de vinho deu lugar à oferta de um chá. Na minha mente a mil a hora decidi que ele jantaria comigo, não sabia o que iríamos comer, nem onde iria arranjar a comida. Isso naquele instante não importava, ainda não era hora de jantar, logo se veria. Sabia apenas, que agora que o tinha ali, teria que o ali conservar o maior espaço de tempo possível.
   Gostei da resposta dele quando lhe perguntei o que pensava daquele espaço que iria dedicar a meu pai e à minha mãe de verdade.
   – Parece uma ampla e acolhedora sala de estar. – foi o que ele disse e que me deixou agradada.
   Aquela definição ia ao encontro do que eu idealizara.
   A minha ideia, à partida, o pano de fundo, seria através de dois produtos – vinho e chá – homenagear as maiores referências na minha vida. No entanto, desde pequena ligada à música, e tendo-me levado isso a conhecer uma elite de pessoas ligada às artes, queria também cativar essas pessoas. Agradava-me a ideia de uma espécie de tertúlia... para falar de livros, musica, cinema, etc... com a companhia fiel de um chá ou de um bom vinho.
   O meu objetivo para aquele negócio não era ganhar dinheiro, era não perder, excluindo naturalmente o investimento inicial. Eduardo fora uma excelente escolha, estava a ser uma excelente muleta, tanto no que se refere a ideias para a requalificação do espaço, como a concretização das mesmas seguindo quem na prática as teria que executar. Para mim ficavam as burocracias que ele tanto odiava. Fazíamos uma boa dupla.
   Senti-me empolgada por ter Santiago ali, mas acho que o meu nervosismo, o meu humor provocante, podiam não lhe agradar. Tentei parar mas não consegui. Ele parecia a espaços profundamente surpreendido e isso até era divertido, mas podia a qualquer momento virar-se contra mim.
   Lá pelo meu meio confrontei-o com a sua sexualidade e ele assegurou-me que não era gay. Pelas omissões, por aquilo que não disse, percebi que não era pai e que no momento não tinha companheira.
   Bebemos um segundo chá. Com a chegada ao nosso diálogo de assuntos mais banais verifiquei que era um indivíduo que sabia escutar, que intervinha muito educadamente, gostei de falar com ele. Disse-lhe que simpatizava com ele, que gostava do nome dele e ao fazê-lo não percebi se isso lhe agradava ou não. A espaços notei que ele parecia distante, não forçosamente ausente. Como alguém que recorda algo que não lhe é de todo agradável lembrar. Podia estar a pensar erradamente. Ou talvez não.
   Perto das 19h, ou mesmo depois, ainda conversávamos. Era urgente solucionar o assunto: o que comer ao jantar para o qual o havia convidado. Ele não havia perguntado em que moldes seria o mesmo e assim não passei a vergonha de não ter resposta para lhe dar.
   Ficamos em silêncio, pensei, e tive a ideia de encomendar pizza porque lembrei que havia visto uma qualquer publicidade na papelada que tirara pela manhã da caixa do correio. Felizmente ele apoiou prontamente a ideia e ajudou a escolher.
   Encomendamos as pizzas, voltamos à conversa, coloquei música.
   Dei por mim a valer conscientemente da sensualidade que me era atribuída. Mas por vezes parecia que estava a seduzir uma pedra. Havia ali qualquer coisa, um mistério, um motivo. Ele fora convincente quando disse que não era gay. Mas era espectável que ele fosse mais recetivo, sobretudo que entrasse mais naquela espécie de jogo... mesmo que mais tarde não o quisesse jogar. Estaria no seu direito.
   Falei-lhe do meu gosto pela música produzida por um piano.
   Senti necessidade de lhe falar de mim e de ter o apoio dele, era estranho, mas era isso que queria. Eu estava sem me relacionar com alguém desde há muito. Terminara com o namoro de longa data pouco tempo após a morte de meu pai. Aliás o términus dessa relação foi mais que esperado, não um trauma, mas o resolver de uma situação que há muito não tinha outra solução. Ainda hoje me pergunto como foi possível estar tanto tempo com ele.
   Ao colocar música fiquei mais calma, tranquila, confiante.
   A dada altura falei-lhe da minha impulsividade e deixei a ideia que o que me trouxera ali fora uma causa relevante. Ele ai disponibilizou-se para ser meu amigo. Senti que falava sério, não da boca para fora. Eu queria isso, a amizade dele, mas mais. Ir mais além.
   As pizzas chegaram.
   Fui um pouco longe demais quando disse que numa próxima oportunidade iríamos comer lá a casa. Estava a querer tudo tão rápido. Eu mesma estava surpresa com o que eu mesma me via a desejar.
   Mas eu ainda não estava satisfeita. Fui mais longe ainda.
   Decidi levá-lo a conhecer a minha casa ainda nessa noite. Influenciada naturalmente pelo vinho Alentejano que tão bem acompanhou as pizzas. Eu não o queria deixar ir embora. Queria estar com ele. Agora que tinha a sua atenção não o queria deixar ir.
   Sentia-me desinibida por completo. Ai, aquele vinho!
   Lá fomos para minha casa a pé. Eu estava um pouco tonta. Nunca fui de beber muito e há muito que não o fazia. Achei que o ar fresco nos iria fazer bem, sobretudo a mim. Lá fomos. Eu apoiada nele, confisquei-lhe um braço. Ele revelou-se um cavalheiro.
   Ah! Levava comigo mais uma garrafa de vinho para bebermos em casa.

* * *

   Não devia tê-lo levado, lá a casa. Não devia aquela segunda garrafa ter sido bebida. Digo isto não porque haja arrependimento mas sim porque a ida lá a casa e a segunda garrafa de vinho vieram prejudicar o que quer que naturalmente poderia acontecer. Tenho a sensação de ter dado dois passos em frente e um para trás.

* * *

   Chegamos rápido. Talvez uns 10 minutos de caminho.
   Ele não se empolgou com a minha casa. Santiago dá a entender ser uma pessoa simples, não muito pegada aos bens materiais, eu ainda que os tenha não me considero propriamente materialista.
   Santiago foi a primeira, e até agora única, pessoa que trouxe à minha casa nova. Eduardo sabe onde vivo, mas por acaso ainda nunca o convidei a entrar, talvez porque a casa ainda não está como quero.
   Não lhe mostrei a casa divisão por divisão, minha mãe fazia isso, acho um hábito patético. Fomos para a sala, queria sentar-me um pouco. Estava tonta e cansada. Havia na sala um quadro com uma mulher a beber vinho e a mostrar literalmente as pernas. Ele olhou com alguma atenção o quadro... podia estar a fazê-lo por gostar de imagem, de pintura... mas eu, misturando humor e sentido de oportunidade, informei-o que aquelas pernas não eram as minhas e que estas, as minhas, eram melhores que as da mulher retratada. Pisquei-lhe o olho.
   Imaginei-o nesse instante a despir-me as pernas para as ver, quiçá para lhe tocar e por ai adiante... Era o vinho e a sua arte de desinibir.
   Terei este pensamento da cabeça com a ideia de abrir a segunda garrafa.
   Fomos à cozinha. Não sei se deva acreditar, mas senti que pela primeira vez ele me observava. E observar não é mesma coisa que olhar. Voltamos à sala já com a garrafa aberta e os copos. Em mente tinha a ideia de que não era apenas parte do seu campo de visão, mas observada com atenção. Cobiçada. Esbocei um andar que imaginei discreto mas sensual. Desejei que me apalpasse. Se ele o fizesse, dar-lhe-ia uma bofetada e depois beijaria-o na boca. Era o vinho.
   Ele encheu o meu copo. Perguntei-lhe, ao mesmo tempo que fazia pose, se me achava parecida com a mulher do quadro. Ai senti que ele se deixou.
   – Acha que estou parecida com a mulher do quadro? – perguntei.
   – Hum! – sonorizou ele enquanto observava para achar uma resposta.
   – Pois, não se vê as pernas... – disse – Fraca imitação a minha. – conclui.
   – Posso imaginar... – disse ele deixando surpreendida.
   – Pode, mas não esquecer: as minhas são melhores... – adverti.
   Ele confirmou que estava a imaginar e eu disse que já havíamos bebido demais. No entanto, bebemos mais um gole. Senti que ele não estava confortável com a conversa. Mas ao invocar a possibilidade de estar a ser chato para ele aturar-me, ele prontamente negou que assim fosse.
   Reafirmei que gostava muito dele e ao confessar que precisava de um bom amigo, Santiago disse-me que podia contar com ele.
   Ele levantou-se de onde estava, da sua postura direita de quem sabe estar, veio ao meu encontro e propôs um brinde. Tomara uma atitude, ele não estava ali na frente só pelo brinde. Pressenti mais que isso, mas também que se autocensura por ter dado esse passo. Eu, de repente, não me senti capaz, como que fiquei sóbria naquele instante... não queria envolver-me com ele embriagada, queria estar com ele – se tivesse que estar – na posse de uma absoluta consciência do que estava a fazer. Se era aquilo que queria, que sentimentos realmente tinha. Não queria um caso simplesmente.
   Sai daquele impasse propondo irmos ao terraço.
   No terraço olhando a paisagem falei-lhe mais um pouco de mim, do apartamento, da herança familiar... gostava de lhe falar de tudo, mas ainda não era tempo. O vinho acabara. Como era possível eu ter bebido tanto.
   Depois começou o passo atrás.
   Não lembro o que se passou após termos descido do terraço. Acordei deitada, vestida, apenas sem sapatos e tapada por cobertores que nem tinha a uso. De imediato fiquei assustada, aterrorizada com a possibilidade dele ter abusado de mim.
   Tentei afastar essa ideia. Eu o havia convidado. Seria azar a mais, pontaria demasiada ter convidado um violador e ainda por cima minucioso ao ponto de me deixar exatamente como estava, apenas sem sapatos.
   Ainda assim despi-me. Olhei-me. Mas continuava assustada.
   Tomei banho, arranjei-me, levei óculos, estava com uns olhos horríveis e fui ao Banco com a ideia de o confrontar com a minha suspeita. Errei. Negligenciei o que já conhecia dele, a minha própria intuição e claramente ele não gostou da minha visita enquanto trabalhava.
   Mais tarde ele foi ter comigo. Tinha um ar sério. Demasiado sério.
   Comecei por lhe pedir desculpa pela minha abordagem depois de o convidar para um chá que ele aceitou com gosto. Fiquei a saber que não gosta de misturar trabalho com vida privada... que era muito rígido nesse aspeto.
   Ele contou tudo o que sabia, mas não sabia tudo... Não tinha por que duvidar dele. Estava ali na minha frente. De coração aberto. Confirmou que me havia levado para o quarto, descalçado e tapado com os cobertores que encontrou.
   Para meu total espanto, não havíamos dormido juntos, eu nos braços dele até às 7h da manhã, ele próprio não se lembrava de como eu fora parar a seus braços. Fiquei aliviada pois tudo o que resultou daquelas duas garrafas de vinho foi tão-somente adormecermos juntos... Só me preocupava o facto de não me lembrar de nada desde a descida do terraço.
   Bateram à porta. Eu estava à espera de uma encomenda de livros.
   Santiago disse que precisava ir, saiu pelas traseiras.
   Hoje fiquei em casa, sinto-me um pouco cansada. Não o vejo faz hoje uma semana.


   Notas Finais
   Agradeço mais uma vez à minha amiga Ivone Moreira a paciência que tem para corrigir o que escrevo.


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21 comentários:

  1. Mais uma vez Elisa surpreende com as suas (in)seguranças, fruto de mágoas passadas mas disposta a refazer a sua vida. Há caminhos que se cruzam sem aparente explicação para que tal aconteça. Assim são os teus personagens Elisa e Santiago, quais Fénix a renascer das cinzas do passado!
    Mais uma vez: D-E-L-I-C-I-O-S-O! :)

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    1. Todos somos naturalmente - e condicionalmente - inseguros ou se preferires, vivemos experiências que nos trazem ensinamentos e que nos condicionam nas situações presentes e futuras.
      Em breve irei falar um pedaço da vida amorosa de Elisa e aí vai-se ficar a perceber o porquê não da insegurança mas da justificação para ela agir como está a agir.
      Gostei, sim, Santiago e Elisa são duas personagens a renascer das suas cinzas, com todos os condicionamentos que daí podem necessariamente advir.
      Obrigado pelo teu apoio. Beijinhos...

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  2. Gostei! Santiago e Elisa são dois personagens enigmáticos que jogam na retaguarda e escondem cada qual o seu segredo. Qual deles vai dar o primeiro passo? Claro, isto é o que eu imagino como leitora.

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    1. Obrigado Dilia :)
      Santiago e Elisa possuem uma vida anterior ao cruzar dos seus caminhos e isso naturalmente condiciona o presente comum. Tudo indica que Elisa ainda não viveu um grande amor. E Santiago? Sabemos tão pouco sobre dele... Talvez saibamos em breve quem é este indivíduo tão solitário e porque o é...
      O próximo já está começado ;)

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  3. Adorei o que li. Elisa, já se abrem muitas brechas acerca do sua vida, mas Santiago? Qual será o seu passado??

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    1. Obrigado Isabel ;)
      Ainda falta saber algo sobre a vida amorosa de Elisa e quase tudo sobre Santiago. Qual deles terá uma vida amorosa mais marcante?
      Ousa opinar menina? ;)

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  4. hummm hoje me consolei um pouco mais LOL... mas claro não chega... mais uma semana de espera LOL Boa noite Jerónimo...

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  5. Gostei do que li. Claro que a mistura de realidade e a imaginação fazem que que os leitores se revejam em algumas cenas que estão descritas na história. Só espero que no futuro dessa história o Santiago não tenha medo de arriscar como me parece...

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    1. Obrigado Sónia ;)
      É meu objectivo escrever não para pessoas intelectuais, mas para pessoas comuns, e narrar histórias que na sua maioria das vezes possuam ter na realidade sucedido.
      Santiago pode ter um motivo muito forte para estar a agir assim, vamos esperar pelos próximos episódios...
      Espero que tenhas tido bom regresso ao continente. Beijos

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  6. Muito bom, e já estou a imaginar que no final não vão haver inseguranças nem medos...
    Gostei muito e esta história cada vez me parece mais empolgante
    Cá fico á espera de mais um bocadinho
    Beijinho :)

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    1. Espero bem que sim, um final empolgante sem inseguranças nem medos... Ups! Eu sou o autor, depende de mim ;)
      O objectivo deste texto é relatar factos omissos até agora, bem revelar acontecimentos que depois podem vir a ser muito importantes no desenrolar futuro da história.
      O próximo já está quase pronto.
      Beijinhos :)

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  7. Acabei de ler mais este episódio.
    Primeiramente, acho que era importante que começasses a identificar o narrador, como por exemplo neste caso, pusesses o nome de Elisa como sub-título deste enquadramento retórico. No tocante ao conteúdo, posso-te dizer que é a versão dela dos acontecimentos anteriormente narrados por ele, sem grandes novidades no desenrolar da história. Foi de facto uma atracção física muito forte à primeira vista, atracção esta que faz com que nós façamos coisas que nunca nos deparamos em acreditar que somos capazes, mas o deslumbramento e a carência se colidiram originando posturas diferentes do nosso verdadeiro ser. Acredito mesmo que haja pessoas assim, sem se conhecerem provoquem tanta agitação no primeiro olhar. Acho que vai dar uma linda história de amor! Mas atenção, não a faças muito atrevida pois poderá ter uma imagem demasiado leviana. E é tudo amigo, continua a nos encantar, estou a gostar imenso desta história. Boa inspiração para os próximos capítulos, beijokas.

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    1. Obrigado mais uma vez pelo comentário e pela fidelidade ;)
      No que se refere ao narrador, penso que o facto de haver dois narradores diferenciados pelo sexo, dá para os distinguir bem. No entanto, tentarei ser mais elucidativo. No próximo texto, a alternância entre os narradores será constante.
      Não há novidades neste texto. Não há no sentido temporal, mas há pormenores que foram ditos e que serão muito importantes no futuro da história, tenho pena de não ser mais preciso, mas como deves entender não o posso ser.
      A atracção física existiu num primeiro instante, mas também existiu uma espécie de mistério à volta daquele ser de que tão pouco se sabe. Mas tudo podia ter terminado sem sequer começar, mas assim não foi e ainda bem.
      Em suma, há pequenos pormenores neste texto que no futuro serão muito importantes.
      Beijokas

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    2. Quanto ao narrador, neste texto em questão não carece identificar pois é de fácil compreensão, mas num futuro que queiras escrever o tal livro, essa identificação é importantíssima para os leitores. É bastante curioso a observação de ambas as personagens em virtude do mesmo acontecimento, pois ficamos a conhecê-las melhor e a poder julgá-las com mais preceito.

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    3. Sabes, tenho há muito um livro começado e terminado, falta ali algo pelo meio... e também está escritos como estes textos de Santiago e Elisa. Ou seja, narradores que são também personagens e que falam dos mesmos acontecimentos vistos pelo seu olhar, em que normalmente o olhar posterior vem colmatar dúvidas ou porquês deixados em aberto pelo primeiro olhar. Gosto desta formula, se assim lhe posso chamar, de escrita.

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    4. Diferentes olhares para o mesmo prisma. Também gosto imenso deste tipo de livros. Aconselho-te a ler "Valete de Copas e Dama de Espadas" de Joanne Harris, é deste estilo, muito bom e arrepiante.

      Por acaso já leste o outro?

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    5. Ainda não, mas tenho cá em casa... Ando mais para escrever do que para ler, mas do que já li, estou a gostar...

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    6. Haja inspiração!!!

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  8. Gosto do que escreves, tu sabes que sempre gostei, mas ultimamente sinto que preciso ler temas com algo que nunca vi, nem nunca ouvi falar, algo que me desperte para uma aprendizagem, nem que seja de conflito de ideias ou ideais entre as relações humanas.
    Os teus textos são marcados pelo mesmo tema, o amor,o desamor, a sedução...
    Gostava de te ler de outra forma.
    Deixo aqui a minha opinião,sem deixar de me orgulhar do escritor que és, da forma como tens vindo a crescer como escritor.
    Parabéns, Jerónimo!
    Beijinhos

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    1. Compreendo o que dizes...
      Os meus últimos 15 textos estão todos no mesmo âmbito, são todos parte de uma mesma história, logo não posso fugir dos temos relacionados com o amor.
      Basicamente estou a escrever um livro aos poucos e não estou a conseguir canalização a minha inspiração para outro tipo de textos.
      Obrigado pela tua opinião ;)
      Beijinhos

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     O vídeo que pode ver em baixo é uma curta-metragem chamado Cupidity (ou Cupido, em português).

     A história é sobre uma empregada de mesa apaixonada por um cliente, mas que ele nunca reparou nela. Ela canta no restaurante onde trabalha e todos a aplaudem... menos o cliente por quem ela está interessada.

     Até que ela percebe o real motivo do desinteresse e recebe a ajuda de um Cupido. Veja por si mesmo: clique no play e emocione-se.