Há mulheres que não gostam de ser chamadas de Querida

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   Resposta ao texto Querida Carmen

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   Paro para ler mais esta tua carta… além de outras tantas que me enviaste, algumas como resposta ao que te dizia, aos sentimentos que partilhava contigo, aos meus argumentos perante situações que me magoavam e que, acredito, te magoavam também a ti… Esta será realmente a última… será a última porque há momentos em que as justificações já vêm tarde, em que as argumentações que se possam dar já não servem para argumentar perante situações que continuamente nos magoam (tantas vezes que te falei, mas parecia que não me ouvias e compreendias)… que sentido tem a vida desta forma, que sentido tem o gostar e o amar que fazem chorar… A vida, para mim, é mais do que isso… e espero que o seja também para ti.

   Falas em desprezo… espero que não o refiras na tua carta no sentido de me apontares que te desprezo… esse sentimento não me pertence. Afasto-me com uma msg porque há situações em que é mais fácil tomar a decisão e dizer-te através da distância física, como se a proximidade me obrigasse a calar as decisões tomadas racionalmente, as decisões que efectivamente fazem sentido, mesmo que esse sentido só venha a surgir a longo prazo… ficas magoado com um “Até um dia destes…” mas é tudo o que temos… é tudo o que há a dizer… não tenho mais que te possa dar.

   Todos somos diferente nesta vida… sem com isto dizer que possa ser melhor ou pior que outras pessoas que passem na tua vida (certamente o serei, como outras o serão perante mim). Mas… tiveste-me contigo, mais perto de mim do que alguma vez alguém esteve… e mesmo assim, confesso que não te mostrei todo o meu mundo… não o fiz por maldade, mas fizeste-me sentir tantas reservas com alguns dos teus comportamentos… É fácil para muitas pessoas dizer – Amo-te, uma facilidade incrível que me assusta e que deixa dúvidas quanto à verdade desse sentimento, e o que significa para ti?? Talvez nunca o tenha realmente entendido… Talvez seja independente demais para me "refugiar" nesse sentimento ou para me deixar perder nele… E quando me perco nele, sou exigente… Preciso de ser surpreendida… em cada dia e em cada momento… talvez eu exija demais… mas quero em cada dia o brilho e o sentimento de magia quando olho para a pessoa que está ao meu lado… Exijo demais… talvez… mas, para o passar contigo o resto da minha vida, é mesmo isso – quero o Tudo.

   Uma vez contei-te aquela analogia, em que revejo que quem esteja comigo seja como segurar num pássaro. Talvez seja muito parva… mas faz parte do meu Tudo. Imagina que tens um pássaro na mão, seguras nele com cuidado para que não fuja, mas não podes esquecer que não podes apertar muito porque ai ele fica sufocado… e tens ainda de recordar que há momentos em que tem de voar sozinho… e tens de ter a confiança que em cada voo que faça ele vai voltar, e tens de respeitar a necessidade desse voo, desse espaço que permite assumir a liberdade individual… talvez seja difícil demais de aceitar este comportamento…

   Neste sentido, nos momentos em que te peço um espaço, não consigo aceitar as tuas mensagens e telefonemas constantes… é como se cortasses o voo na minha liberdade pessoal, como se me tirasses o ar que respiro. Cada mensagem e telefonema só o sinto como mais uma pressão da tua parte, como se as tuas mãos estivessem a apertar e a sufocar, não consigo respirar… e ai só penso em soltar-me e quando entro nesse voo já não volto… Sei que poderá não ser fácil estar ao meu lado… mas muitas vezes complicaste demais determinadas situações… a vida pode ser tão simples…

   Queres um “Até amanhã”, mas o “Até amanhã” que te posso dar não é com o sentimento que esperas de mim… o lugar que temos nas nossas vidas não pode voltar a ser vivido em acordo com esses sentimentos… esse espaço tem de ficar aqui… é uma decisão e um comportamento que não é fácil de tomar e de seguir, mesmo para mim… mas é o voo que temos de fazer…

   Há que ter a coragem de procurar ser feliz, mesmo que seja longe da pessoa que mais gostamos, porque entre algumas pessoas o amor não é tudo e parece não bastar… E acima de tudo… merecemos ser felizes…

   Ah! E nunca gostei da forma como sempre iniciavas as tuas cartas, porque há mulheres que não gostar de ser chamada de Querida...

Texto e Fotografia   
Carmen Pereira   

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