Santiago, para meu espanto, mas para meu contentamento também, acedeu a levar-me ao colo sem qualquer expressão de desagrado ou desconforto. Gostei tanto! Estava a usar uma saia muito confortável, apesar de comprida não me prendia os movimentos. Era de um tecido fluido e sendo trapézio abria-se ligeiramente quando eu caminhava… ideal para usar em casa, já na rua seria demasiado reveladora...
Ir ao colo de Santiago fez-me sentir como uma noiva, embora a saia não fosse branca.
A distância a percorrer não fora muita, desejei que pudesse ter sido um pouco, só um pouco, mais longa. Chegados à cama, uma cama que eu jamais usara. Santiago deitou-me com todo o cuidado, certamente como o fizera da primeira vez.
Durante o trajeto, ele olhara-me, um olhar diferente, único até ao momento, como se fosse o princípio, o começo, de qualquer outra coisa, uma nova etapa. Senti-me desejada, noiva... Era estranho a sensação da noiva, casamento não era algo que atrai-se, que fosse algo a realizar um dia.
Senti-me desejada. Não transportada, tocada...
Pareceu-me que ele adormecera por uns instantes, seu rosto parecia liberto, não denotava aquela sua sensação de constante embaraço. Parecia, sei lá, embalado pelo piano.
Santiago deitou-me com todo o cuidado. Depois ficou a olhar-me. Eu olhei-o também, o meu coração batia forte e o meu corpo, todo ele desejava aquele homem.
Senti-me a tomar definitivamente uma decisão, mas ao mesmo tempo apercebi-me que era como que guiada, se calhar a dita decisão já fora tomada antes. Talvez naquele momento em que entrei no Banco, o único nas redondezas, e em que fui ao encontro dele por uma espécie de capricho, por não aceitar que ele antes não tivesse reparado em mim quando eu queria que ele o tivesse feito.
Agora sabia, tinha consciência, fora aí que começara, que tivera início o que agora sentia. Era algo que fora crescendo, talvez parando aqui e ali, sobretudo quando desconfiei dele, mas que parecia um caminho sem rumo. Via-me agora, a desejá-lo como... como nunca antes desejara outro homem. Eu iria lutar por ele, pelo amor dele.
Depois ficou a olhar-me... Havia nele, quero acreditar, desejo, ternura... nuances de amor, amor que ele ainda não tinha condições para entender existir em si. Era o que queria dele, o seu amor, o meu acho que ele já o tinha naquele momento. Só podia ser amor, o que me fazia sentir como me sentia.
Olhamo-nos durante algum tempo.
Pouco tempo na realidade, muito tempo na escala temporal em que se tocam as almas, em que se deseja a eternidade de um determinado instante.
A mão dele elevou-se, pressenti, por isso fechei os olhos e quando a mão chegou já meu rosto se afagava nela.
Depois do que havia imaginado... Contemplá-la não chegava. Parecia tão pouco, queria tocá-la. Acariciá-la. Conhecer com meus dedos, a textura da pele de Elisa.
Naquele instante só a via a ela, Elisa... Minha mão rumou àquele rosto. Ela fechou os olhos, ficou linda. Eu ainda vivia naquele instante uma ressaca do que estivera a pensar, como que a sonhar acordado.
Senti as pernas de Elisa a mexer, pouco depois seus sapatos caíram sobre o chão. Não fizeram som relevante. Relevante, cativante, acolhedor e excelente criador de ambiente era o som do piano. Eu deitara-a e sentara-me junto à cintura dela.
Ela beija minha mão. Abre os olhos, mira-me.
Sorriu para mim, seu joelho esquerdo ergueu-se, ficando a perna e a ante-perna como semi-rectas de um ângulo de 90º... Este ficou despido da saia que o cobria, nu de cobertura e eu lembro o sonho acordado.
Baloicei minha perna...
Deliberadamente para que esta ficasse mais descoberta.
– Então, que tal? É melhor que a do quadro? – perguntei não deixando de a baloiçar e com isso ela ficava cada vez mais descoberta.
Santiago deixou de tocar o meu rosto. Apoiou-se sobre a mão direita, a que me tocara o rosto, e a esquerda foi tocar minha perna. Não, tocar não é o termo. Acariciar é o verbo correto.
Senti um ligeiro arrepio. Desejo. A respiração foi, nesse instante, difícil.
– Sim, sem dúvida... – respondeu convicto, fazendo sua mão percorrer parte da minha coxa.
Beijou o meu joelho.
Depois de lhe beijar o joelho, de deixar de tocar a sua coxa... contemplei-a.
Barriga, peito, rosto... Ela parecia convidar para um beijo. Mas não fui capaz de ir ao encontro do convite.
Adivinhei que ela queria ceder ao seu próprio convite. Coloquei a minha mão esquerda sobre seu joelho e ela aproveitou esse apoio para se sentar e lançar seus braços sobre meu pescoço, abraçando-me. Nossos lábios tocaram-se.
Elisa tinha os olhos fechados e os meus fecharam-se como que por solidariedade. Pela primeira vez em 3 anos eu desejava… Estava à beira de dar um beijo a uma mulher, a uma mulher que não Laura, mas naquele instante a mulher da minha vida, com quem um dia de manhã tomei o pequeno-almoço e à noite de joelhos caídos sobre o chão soube que ela partira deste mundo, ela e o filho que tanto desejávamos, eu estava a desejar Elisa...
Nossos lábios tocavam-se ao de leve, ligeiramente, roçavam... parecia, aqui e ali, colarem-se, despegarem-se depois, caminhar mais um pouco, voltarem atrás indo em frente. Parecia um jogo de conquista. Uma conquista mútua. Uma mútua sedução.
Meus braços, mãos, abraçavam-na agora ligeiramente acima da cintura, seu peito bem junto ao meu. Ela continuava a abraçar-me... Vi-me a pensar no nós, que aquele abraço era nosso. Seus dedos vagueavam pela minha nuca, pareciam despentear-me, mexiam por vezes numa agradável sensação de massagem.
A cada instante aquele tocar de lábios, a que chamamos beijo, levava-me a ter sensações que há muito não tinha, que pensava não ser mais capaz de ter. Elisa mordeu-me o lábio inferior até ao limite, até à fronteira entre o prazer e a dor. O seu peito junto ao meu. O desejo da química da pele. Um súbito impulso para a despir. Tudo tão rápido, tão assustador, como se fosse novo, algo conhecido mas esquecido, como se fosse amnésia.
Os lábios, nossos, que antes se tocavam ao de leve, passaram a chocar, a colar, a brigar, numa fúria desmedida de prazer. Línguas entrelaçadas numa dança sem coreografia. Depois tudo acalmava de novo, vinha a lentidão, uma bonança depois daquela furiosa tempestade de sensações.
– Não, na orelha não... – disse-lhe. Como que avisei. Laura, ela fazia sempre isso para me descontrolar.
– Não, porque não? – perguntou, não só continuando, como intensificando.
Não sei como, num instante eu estava com a língua na orelha dele e no instante a seguir, ele com uma força desmedida lançou-me sobre a cama, veio para cima de mim. Depois as mãos dele vieram até ao meu decote, pressenti que podia querer rasgá-lo, mas parou. Despir-me a roupa, mas parou.
– Rasgue... – ordenei, quase gritei. Era o que queria, estava convicta.
Ele não o fez, não o rasgou. Não me despiu.
– Não, Elisa... – disse parecendo acordar de uma espécie de transe.
Aquele homem poderoso que me estava a deixar absolutamente louca e descontrolada desaparecera. Sentia que queria tudo. Mas ele parecia ter bloqueado. A razão dizia que era preciso falar com ele, mas todo o meu corpo, todas as suas partículas, queriam...
– Quero-o Santiago... – disse-lhe rendendo-me as minhas sensações.
Ele caiu, saiu de cima de mim, fica deitado no centro da cama.
Tapou o rosto com as mãos. Por vergonha de me encarar. Mas também por não ser capaz de esquecer o passado. Era isso, era ainda Laura. O meu corpo ardia de desejo, de amor por ele, a minha cabeça, a razão, essa dizia para falar com ele. Instantes tão ingratos, de tão difícil gestão.
– Eu também estou a desejá-la, mas... – começou por dizer.
– Mas... – repeti, quase indignada.
Tirei-lhe as mãos do rosto, seus olhos estavam fechados. Não respondeu. Debrucei-me sobre ele.
Beijei-o com ternura nos lábios, ele não correspondeu. Seus lábios pareciam pulsar, comprimir, percebi que estava comovido.
Deitei-me a seu lado.
Ele então, sem nada dizer, estendeu o braço esquerdo e assim me convidava a deitar no seu ombro. O que prontamente fiz.
Notas Finais
Agradeço mais uma vez à minha amiga Ivone Moreira a paciência que tem para corrigir o que escrevo.
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Grande tarefa tem a Elisa pela frente..... mas ela vai conseguir, e o Santiago também.
ResponderEliminarCada vez melhor
Obrigada Vitor
Beijinho :)
Esperemos que sim ;) Que consigam...
EliminarEla precisa de muita paciência e ele de confiar mais em si próprio, na possibilidade de voltar a amar.
Obrigado pela fidelidade :)
Beijinho
Deliciosamente I-N-F-L-A-M-A-D-O! Paixão eminente...
ResponderEliminarEstá a ganhar forma este drama. Não tarda nada Vítor, tens um livro publicado!
Parabéns!
A paixão vai surgindo, vai sendo esbatida aqui e ali pelos traumas, mas aos poucos irá vencendo...
EliminarEstive agora a ver, todos os texto reunidos e formatados como se de um livro se tratassem, totalizam já 87 páginas.
Obrigado pela ajuda e pelo apoio constante ;)
Beijinhos
Ora bolas, ainda não foi desta!!! Está difícil!
ResponderEliminarBem, a descrição está muito envolvente, muito entusiasmante, uma sintonia de desejo que não culminou. Ás vezes as cicatrizes da alma é o reflexo do presente, que tende a não desaparecer. É preciso uma grande dose de paciência para reerguer uma alma, purifica-la para a realidade e conseguir toca-la com o coração. Muitas vezes a desistência é o caminho mais fácil para quem não quer "acordar" para a vida.
Oxalá que a Elisa consiga alcançar aquilo que pretende, sem cair nas malhas da obsessão. Estou a adorar a narração, conseguiste criar um texto muito sensual e coerente, capaz de nos transmitir todas as emoções de um verdadeiro enlace. Continua com muita inspiração para os próximos desenvolvimentos, Beijokas.
Adorei....quande se sabe e sente k vale a pena esperar é ótimo. Fez me sonhar, era o que realmente necessitava hoje. kem me dera...!
ResponderEliminarHá sempre risco em tudo, nunca haverá uma certeza absoluta no que quer que seja. Se alguém tiver a capacidade de nos fazer sonhar, há que lutar por mais que seja difícil a luta... Haverá períodos melhores, outros piores, mas há que não perder o foco final... o sonho!
EliminarForça Sónia ;)
Beijinho
adorei...cd descriçao...envolvente,faz-nos imaginar o que se esta a passar e pensar o q vai acontecer de seguida.
ResponderEliminarparabens mt bom adorei